Conto de Grimm- Mãe Hilda
12 Fevereiro 2014
Conto de Grimm - MÃE HILDA
Também conhecido por A DONA OLA ou ainda a DONA FLOCOS DE NEVE.
Uma história para o inverno...
Ilustração em lã cardada de Célia Portail
Era vez uma viúva que tinha duas filhas — uma delas era bonita e trabalhadora, ao passo que a outra era feia e preguiçosa. Mas a mãe gostava mais da filha que era feia e preguiçosa, porque ela era sua filha própria; e a outra, que era filha do marido dela, era obrigada a fazer todo o trabalho doméstico, e como tal, era a Gata Borralheira da casa. Todos os dias a pobre garota tinha de sentar-se perto de um poço, que ficava à beira do caminho, e fiava e fiava até que seus dedos sangrassem.
E então aconteceu que um dia a bobina ficou manchada com o sangue dela, então ela mergulhou a bobina no poço, para remover as marcas de sangue; mas a bobina escorregou das suas mãos e caiu no fundo do poço. Ela começou a chorar, e correu até a sua madrasta e contou a ela o seu infortúnio. Esta porém, repreendeu-a com severidade, e foi tão impiedosa a ponto de dizer, "Como foi você que deixou a bobina cair dentro do poço, você deve pegá-la de volta."
Então a garota voltou até o poço, e não sabia como fazer isso; e como o seu coração estava aflito, ela pulou dentro do poço para pegar a bobina. Ela perdeu os sentidos; e quando acordou e voltou a si novamente, percebeu que estava num lindo campo onde o sol brilhava e milhares de flores estavam desabrochando. Ela começou a vagar pelo campo, e finalmente avistou um forno de padaria repleto de pães, e o pão gritava para ela, "Oh, me tire daqui! me tire daqui! ou eu vou me queimar; já estou assado há muito tempo!" Então ela se aproximou dele, e tirou todos os pães, um após o outro, com uma pá de pegar pães.
Depois disso, ela continuou andando até que encontrou uma árvore repleta de maçãs, que gritaram para ela, "Oh, chacoalhe o galho! chacoalhe o galho! porque nós estamos todas maduras!" Então, ela chacoalhou a árvore, até que caiu uma chuva de maçãs, e ela continuou chacoalhando até que todas tivessem caído, e quando ela tinha apanhado um montão delas, ela seguiu seu caminho.
Finalmente ela chegou numa casa pequenina, onde uma velhinha estava espiando; mas ela tinha dentes tão grandes que a garota ficou assustada, e teve vontade de fugir.
Mas a velhinha gritou para ela, "Do que você tem medo, minha menininha? Fique aqui comigo; se você fizer todo o trabalho de casa direitinho, você mostrará que é uma boa menina. Somente você deve tomar muito cuidado para arrumar bem a minha cama, e você deve sacudir bem forte até que as penas voem — e então é como quando a neve cai sobre a terra. Eu sou a Dona Ola."
Como a velhinha falava de um modo tão gentil com ela, a garota tomou coragem e concordou em fazer o serviço. Ela fez todo o serviço para satisfação da velhinha, e sempre sacudia a cama dela com tanta força que as penas voavam por todo lado e caíam como flocos de neve. Então ela tinha uma vida agradável ao lado da velhinha; que nunca se zangava; e comia comida boa todos os dias.
Durante algum tempo ela ficou em companhia de Dona Ola, e depois ela começou a ficar triste. A princípio, ela não sabia qual era o problema que a aborrecia, mas aos poucos ela foi descobrindo que era saudade da sua casa: embora ela fosse mil vezes mais feliz aqui do que na sua casa, mesmo assim ela sentia uma grande vontade de estar lá. Por fim, ela acabou dizendo para a velhinha, "Estou com muita saudades de casa; e embora eu seja muito feliz aqui, não posso ficar mais; preciso voltar para a minha família."
Dona Ola disse, "Fico feliz que você sinta saudade da tua casa, e como você me serviu com tanta dedicação, eu mesma vou te levar de volta." Dito isto, ela pegou a menina pela mão, e a levou até uma porta muito grande. A porta estava aberta, e assim que a donzela estava passando bem debaixo dela, uma pesada chuva de ouro começou a cair, e todo ouro ficava colado no corpo dela, até que ela ficou completamente coberta do metal.
"Tudo isso será teu porque você é muito esforçada," disse a Dona Ola; e ao mesmo tempo deu de volta a ela a bobina que ela havia deixado cair dentro do poço. E então a porta se fechou, e a pequena donzela se viu deitada no chão, não muito distante da casa da sua madrasta.
E a medida que ela caminhava em direção ao quintal ela avistou um galo que estava pousado ao lado do poço, e gritou — "Cocoricó! A menina de ouro voltou para casa!" Então ela foi até sua mãe, e quando ela se aproximou toda coberta de ouro, ela foi bem recebida, tanto por ela como pela irmã.
A garota contou tudo o que aconteceu a ela; e assim que a mãe ficou sabendo como ela conseguiu tanta riqueza, ela ficou muito desejosa que a sua filha, feia e preguiçosa, tivesse a mesma sorte. A única coisa que ela tinha de fazer era ficar sentada ao lado do poço e fiar e fiar; e para que a bobina ficasse manchada de sangue, ela precisou encostar a mão num espinheiro para que seu dedo fosse picado. Depois, ela atirou a bobina dentro do poço, e em seguida pulou dentro dele.
Ela se viu então, no mesmo e belo campo, como a sua outra irmã, e percorreu os mesmos caminhos. Quando ela chegou perto da fornalha o pão gritou novamente, "Oh, me tire daqui! me tire daqui! ou eu vou me queimar; há muito tempo que já estou assado!" Mas a pequena preguiçosa respondeu, "Como se eu tivesse alguma vontade de me sujar!" e continuou seu caminho. Pouco depois, ela encontrou o pé de maçãs, que falou para ela, "Oh, chacoalhe o galho! chacoalhe o galho! As maçãs estão todas maduras!" Mas ela respondeu, "Eu gostaria de fazer isso! mas uma de vocês poderia cair na minha cabeça," e continuou andando.
Quando ela chegou à cada de Dona Ola ela não ficou com medo, porque ela já tinha ouvido falar dos dentes grandes que ela possuía, e logo começou a fazer todo serviço que precisava ser feito.
No primeiro dia ela se esforçou para trabalhar com dedicação, e obedecia à Dona Ola quando esta lhe pedia para fazer alguma coisa, pois ela estava pensando em todo ouro que a velhinha lhe daria. Mas no segundo dia ela começou a ficar com preguiça, e no terceiro dia com mais preguiça ainda, até que ela não queria mais levantar cedo de jeito nenhum. Ela nem sequer arrumava a cama de Dona Ola como deveria, e não sacudia a cama com força até que as penas começassem a voar.
Dona Ola então se cansou de tanta preguiça, e falou para ela para que se fosse dali. A menina preguiçosa estava mesmo querendo ir embora, e pensou que naquele momento uma chuva de outro começaria a cair. Dona Ola a conduziu até uma porta muito grande; mas quando ela estava bem debaixo da porta, ao invés de ouro uma chuveirada de alcatrão caiu por todo seu corpo. "Esta é a recompensa pelos teus serviços," disse a Dona Ola, fechando a porta.
E então a menina preguiçosa foi para casa; mas ela estava totalmente coberta de alcatrão, e o galo estava sentado ao lado do poço, e assim que ele viu a menina, exclamou — "Cocoricó! A menina cheia de alcatrão chegou!" Mas o alcatrão estava tão grudado no corpo dela, que não pode ser removido durante toda a sua vida.
Sugestão de leitura: Contos de Grimm na loja Cristina Siopa